30.4.11

Nirvana público



Os simbolistas realmente estão certos. Três quartos do prazer de se abrir um presente é tentar adivinhar o que há dentro dele. É assim que eu me sentia ontem. A expectativa e a ansiedade pareciam quase explosivos pela manhã daquela sexta feira, dia 29 de abril. Eu fechava os olhos, lembrava de tudo que a Dona havia me dito no msn na noite anterior e não conseguia se quer imaginar o que iria acontecer comigo.
Claro, o nervosismo de saber que pessoas baunilhas iriam assistir a tel cena - seja lá qual fosse - só me deixava mais ansiosa ainda. E se elas não gostassem? E se eu fosse um desastre total? Cenas em público nunca foram meu forte, mas, pelo bem da demonstração e conversão de novos Dominadores, Submissos ou SW eu havia topado o desafio. Explico várias vezes as minhas amigas baunilhas que iam ao evento como ia ser, embora eu não soubesse se elas de fato entendiam. Eu mesma não sabia o que entendia naquele ponto.
O tempo passou rápido depois disso, quando me dei conta já estava na metade de tarde e eu estava sentada embaixo do chuveiro com uma respiração calma e constante de quem abriu mão para se entregar. Neste ponto da tarde, já não me importava o que iria acontecer comigo, eu queria simplismente que Eles me levassem aonde quisessem e só isso. Escolhi uma roupa bonita - mesmo sabendo que os Donos já haviam me comprado um vestido para usar, me maquiei e fui.
Ao chegar ao local tudo parecia se encaixar tranquilamente, me sento, espero todos chegarem, observo o movimento, explico algumas coisas para minhas amigas. Observo as pessoas brincando, os baunilhas se encantando com chicotes e cane e penso sorrindo: "Ah, eu também já fui assim". E lembro do processo todo e quase desejo compartilhar com todos como o BDSM é gostoso quando se realmente o vive, mas permaneço calada, afnal de contas, eles estão apenas no começo da jornada. Troco de roupa e me sento de novo.
As pessoas comentam meu nome, a Dona sorri, o Dono some. Ouço vários comentários como: "Ah, faz isso com a fox" ou "Que legal que vão fazer isso". Mas já não importa mais, tudo que importa naquele momento é tudo que Eles podem me oferecer e a entrega que eu estou disposta a dar na frente dos amigos, colegas e baunilhas. É um teste pessoal, mas também um presente que eu queria dar ao meu Dono em especial.
Quando todos brincam meu Dono aparece de novo. Eu automaticamente abaixo a cabeça. Ouço Ele explicar que vamos fazer uma cena de spanking e depois disso, não escuto mais nada. Chego perto, beijo a mão dos Donos e então a Dona me diz:"Tira o vestido". Acho os laços, solto e puxo o vestido. A cena fica dificil porque sinto todos os olhos em mim, inclusive dos meus Donos e nessa hora os olhos Deles tiveram um peso enorme, avaliativo e totalmente excitante.
Olho para as cordas penduradas em uma pilastra e entendo que devo passar minhas mãos ali para me dar apoio para o que quer que fosse acontecer. Coloco as mãos, ajusto o peso e me dou para ser colocada na posição que eles quisessem.
A Dona aparece primeiro atrás de mim, as tapas dela, no começo não tinham peso algum, apenas impacto em cima de impacto e depois, aquele quentinho gostoso tão bem conhecido já. A mão passa pra cane e aí eu me retorço.
A cane, ao contrário da mão, tem um poder quase desesperador. Ela é boa e ruim ao mesmo tempo e por isso, nunca consigo decidir se gosto dela. Sinto uma palmada do Dono e me desconcentro. A mão Dele, talvez como sua coleira, tenha um poder que poucos entendem. Ela pode muito pesada e dificil mas ao mesmo tempo ela pode ser fantástica e motivo de prazer. Depois da mão do Dono não lembro bem, sei que apanhei de cane, de raquete e com um chicote com pinos de metal totalmente dolorosos. A dor estava naquele ponto: entre o prazer e o desespero. E foi aí que a brincadeira de fato começou!
A Dona chega do meu lado, mostra um ralador com cabo para me bater e pergunta se é isso que eu quero. Lógico, eu aceito.
A primeira pancada do ralador foi pura ansiedade, minha e Dela. O desejo de causar e fazer e unir aquela fantasia imaginada acho que desde o dia em que nós 3 nos conheçemos. A segunda, foi surpreendente. Não, não foi de dor, alias, não doeu. Eu saí do mundo. O prazer foi tão grande que eu relaxei e passei a desejar mais. Quanto mais ela batia, mais eu sentia-me lançada a um furacão de sentidos e prazer. Não sei quantas vezes, sei que quando senti o primeiro filete de sangue escorrer pelas pernas eu mordi a boca com força e me controlei para não gozar em público.
Então, Ela entregou o ralador para Ele. Se eu pudesse explicar em palavras o que sinto quando Ele me bate...mas não posso, porque não é nem desse mundo! Acho que é uma espécie de nirvana mágico, uma mistura de dor absurda com prazer abusrdo. Eu sentia o sangue escorrendo e nossa...minha mente ficou vazia em um nível em que eu não era mais minha, a dor não era mais dor, o prazer não era mais prazer e meus pés não estavam mais no chão.
Não havia nada capaz de me ancorar naquele momento. Eu tinha perdido meu porto e isso talvez só entenda quem já sentiu o que eu senti ontem a noite. Quando a cena acabou senti muito frio e logo fui levada para dentro, onde a Dona, com muito carinho, cuidou dos ferimentos. Voltamos ao grupo onde fiquei junto aos pés dela, recebendo carinho e retribuindo meu calor em agradecimento.
Não sei quantas vezes agradeci ela e ao Dono, mas seja lá quantas vezes fora, não foi o suficiente. Nessa hora, a Dona chega perto de mim e diz: "meu bem, quer que a gente te corte?" É...talvez ninguém me entenda e me leia tão bem como meus Donos fazem.
E fiquei algumas horas me recuperando e olhando outras cenas enquanto tudo era preparado.
Eu permanecia inquieta, sem paciencia comigo mesma e tentava me ancorar na Dona.
Ajudo os Donos a arrumar algumas coisas, nesse ponto, só algumas pessoas do meio parmanencem no local e então entrego tudo novamente. Descubro o prazer de sair do controle.
Deixo que eles preparem minha pela, discutam onde vão cortar, a luz calma e o ar me deixavam tranquila. Naquele momento acho que eu nem era a fox ou a faith, eu era a submissa do Senhor Etrom e da Senhora Eve simplismente.
Ela vem perto de mim, me faz carinho no cabelo e segura minha mão dizendo que não irá sair dali. Ela vira meu porto. Minha entrega passa a ser para o Dono, e confio cegamente Nele e em seu poder sob mim.
Sinto a lamina encostar, relaxo e fecho os olhos. Quando a dor, fina, aberta e dilacerante começa, junto com ela sou empurrada a um quase orgasmo sem explicação alguma. Gemo, mas não de dor e pela primeira vez isso acontece.
Não sei quantos cortes foram, porque não olhei ainda, acho que 3 ou 4, e, a cada um deles, eu gemia e me soltava, e gozei na beira de um precipicio que eu acho que nem sou capaz de entender ainda. Termino sem ar, em uma onda de adrenalina fortíssima e totalmente sem chão. Eles limpam os cortes, fazem um curativo antes mesmo que eu avalie o estrago com atenção. Ela me mostra uma foto dos cortes e foi melhor assim. Ela me cobre e me força a comer um pouco de biscoito com suco. Talvez ela não entenda, achou que fosse falta de sal, mas nem mesmo eu entendo o ponto onde cheguei. Não se compara ao gozo comum ou um mero orgasmo, mas sim a um nirvana de dor e prazer e gozo e entrega e .... uma tempestade . Não tenho como explicar, foi melhor do que qualquer outro prazer sexual que já senti na vida.
Hoje me sinto livre e prisioneira, ferida e curada, perdida e achada. Deles...é isso, me sinto Deles.
Obrigada Donos!

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